May 14, 2012

A épica jornada de Wando Percival Junior - Parte 1

Olá, meus docinhos de chocolate com recheio de caramelo!

Foi grande o período sem inspiração ou novidades e provavelmente ele continuará, ao menos no que depende da minha criatividade. Porém, existe uma pessoa, aquela pessoa que é tão, mas tão fã do Ponto G e de sua criadora que usa todo o seu dom e inspiração para reviver esse antro de ócio. Sim, meus amigos, é ele! Nosso queridíssimo Pedroca Grizoti.

Como os meus mais fiéis leitores sabem, meu letroso predileto tem sua própria seção aqui no Ponto G, intitulada "Wandos do meu Brasil", que mais tarde virará um livro de contos! Anotem o que eu digo! :} Como sempre o menino escreve demais (isso não é ruim) e o nosso novo protagonista ocupará mais de um post!

Acompanhem a partir de agora a primeira parte d'A épica jornada de Wando Percival Junior!

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Wando Percival Junior, conhecido por todos apenas como Wandinho, seria apenas mais um entre milhares de jovens paulistas, esquecido em meio à imensidão cinza, se não fosse a história de sua épica jornada, digna de fazer Ash Ketchum e Frodo Baggins derramarem lágrimas de admiração silenciosa. Nascido numa família sem graça de classe média, Wandinho teve uma criação no melhor estilo “leite com pêra”. Seu maior esforço físico de toda adolescência foi ter que andar cinco quarteirões num domingo a noite para comprar um pacote de Doritos, devorado enquanto ele jogava Tibia com os amigos. Seria uma existência fadada à obesidade mórbida atrás de uma mesa de escritório, mas o destino de Wando lhe reservava algo muito mais grandioso.

Tudo começou em mais uma tarde de tédio, frequentes na vida de Wandinho. Sentado só de cueca de frente ao ventilador, perambulando pela internet, ele procurava por algo que preenchesse aquele vazio interior que sentia. Vagueou por sites pornográficos de qualidade duvidosa, fez contas em redes sociais obscuras – o supra-sumo do ócio – assistiu vídeos de gatos no YouTube e acessou todos os blogs supostamente engraçados de sua lista de favoritos. Quando já estava quase indo jogar Paciência, sofreu um daqueles acessos de nostalgia que te fazem ficar compartilhando porcarias no Facebook. Em pouco tempo, baixou e instalou Ragnarok Online, um jogo que já o tinha feito matar incontáveis aulas e varar inúmeras noites. Sacou salgadinhos gordurentos da despensa, a Coca-Cola sem gás da geladeira e se pôs a jogar.

Dias e dias se passaram. Como bom nerd que era, Wandinho já possuía ao menos três personagens super-poderosos, daqueles que pessoas normais jamais conseguiriam ter mesmo se jogassem a vida inteira. E foi assim, em meio à matança de monstros rosados e muito PvP, que Wandinho conheceu Gisele. Nos primeiros momentos, ele estava incrédulo, pois duvidava da existência de garotas nerds de verdade. Depois de comprovar a veracidade do alegado gênero feminino de Gisele, imaginou que ela fosse alguma gordinha espinhenta colecionadora de mangás e motivo de piada na escola, mas o mais surpreendente ainda estava por vir: depois de adicioná-la em todas as redes sociais possíveis, descobriu que ela era linda! Cabelos curtos, estilo despojado, sorriso contagiante, tom de pele de alguém que faz algo além de ficar em casa o dia todo de frente ao computador, magra, rosto sem marcas nojentas da adolescência e – a melhor parte – coxas voluptuosas. Era bom demais para ser verdade – mas, infelizmente, era.

Wando conversava com Gisele todos os dias, deslumbrado. Falavam de HQs, animes, músicas, jogos e pokémon, entre outras coisas. O coração de nosso pobre protagonista batia acelerado toda vez que ele via a janelinha do canto direito anunciar que sua musa geek estava online – no final das contas, ela era a única garota com a qual ele falava, mesmo que fosse apenas pela internet. Obviamente, Wando caiu de amores por Gisele, e assim se pôs a utilizar sua milenar tática de sedução: piadas e trocadilhos de duplo sentido. Ele não sabia lidar bem com esse tipo de situação – na verdade, não tinha a menor ideia do que estava fazendo – mas perseverou. Aprimorou seu charme – isso é, investiu mais alguns pontos em Carisma – e aprendeu – em fóruns virtuais, claro – novas estratégias de conquista. Com a determinação de alguém que zera Doom II na dificuldade nightmare, escalou os terríveis muros da friendzone e investiu diretamente ao seu objetivo. E colossal foi a surpresa de Wandinho ao perceber que havia conseguido um acerto crítico no coração de Gisele, mesmo contra todas as expectativas. Três urros ele deu, e três vezes zerou Guitar Hero III no extreme, mas ainda era difícil acreditar em seu feito. Seu corpo estava tomado pela adrenalina: era como se ele tivesse engolido uma dúzia das estrelas douradas psicodélicas de Super Mario World. Gloriosos foram aqueles dias, a primavera da verdadeira adolescência de Wandinho, mas estavam fadados a encontrar um triste fim.

Quando a euforia passou, Wando começou a compreender seu drama. Tudo bem, ele estava bastante satisfeito em ter suas declarações de amor correspondidas – mesmo que fosse apenas através de uma janelinha de chat no facebook – mas todos sabemos que isso não vale nada no cruel universo masculino, no qual as conquistas com o sexo oposto são todas exibidas como troféus. Uma namorada virtual chegava a ser pior do que estar sozinho, já que era munição fácil para os inimigos em qualquer troca de ofensas gratuitas – “olha quem fala, o gordinho que nem mesmo consegue arrumar uma mulher de verdade” – que são irritantemente constantes durante a adolescência. Wandinho chegou muito perto de se tornar o predecessor tupiniquim de Zangief Kid, bombardeado de todas as partes por seus colegas de escola, mas decidiu tomar a saída mais honrosa para seu problema: ir atrás de Gisele.

Entretanto, não só de intenções se faz um épico. Gisele morava em Brasília, e o mais distante que Wando já tinha ido era para Santo André, a fim de visitar uma tia solteirona que criava sete gatos, e para piorar ainda acompanhado dos pais. Isso sem considerar todas as despesas envolvidas, um tanto pesadas para a receita de quinze reais semanais – que deveriam ser para o lanche, embora sempre fossem usadas com outra coisa – de Wandinho. E, acima de tudo, havia o medo de nosso não-tão-intrépido protagonista de acordar numa banheira de gelo sem os rins, o que ele acreditava ser perfeitamente possível – e até mesmo provável – depois de alguns anos acessando a internet. Ainda assim, Wandinho perseverou bravamente, lutando contra seus temores e dificuldades tão ferozmente que poderia derrotar Freeza em apenas dois episódios.

Com o coração partido, Wandinho vendeu toda sua coleção de bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco – daqueles completamente articulados que você tinha aos montes quando criança, mas destruiu todos – para juntar uma graninha. Não sendo suficiente, ainda trabalhou meio expediente durante dois meses numa lan house do seu bairro, ensinando a um incontável número de quarentonas como mandar recados coloridos no Orkut e aturando infindáveis bandos de garotos de dozes anos gritando uns com os outros enquanto se matavam em algum jogo de tiro qualquer. Foi durante esse tempo que Wandinho conheceu, a duras penas, a realidade de quem está na base da pirâmide do capitalismo, o que o incentivou a, algum tempo depois, desistir de seu sonho de prestar vestibular para História e fazer algo que verdadeiramente lhe rendesse algum dinheiro.

Como ainda estava um tanto inseguro, Wandinho convenceu Samuel, seu melhor amigo e parceiro de nerdagem, a acompanhá-lo naquela viagem incerta rumo a um destino desconhecido – embora fosse tudo bem menos poético. Sam era de uma família tão rica que nunca ia ao shopping apenas a passeio – típico programa das classes menos abastadas, cujo ápice é sempre esperar quase uma hora para fazer um lanche numa praça de alimentação lotada e barulhenta. Além da companhia, Sam poderia prover fundos de viagem inestimáveis, especialmente o Nintendo 3DS dele, perfeito para os momentos de tédio balançante dentro do ônibus semi-leito cheio de velhos chatos e crianças irritantes – afinal, quem faz uma viagem interestadual desse tipo bem no meio de abril? – que tomariam. No fundo, Wandinho esperava que, se topassem com o tal ladrão de rins, que ele ao menos fizesse o favor de roubar um dele e outro de Sam, não deixando assim ninguém no prejuízo.

Antes que conseguisse partir, entretanto, Wandinho teve de travar batalhas ferozes contra sua mãe, que era radicalmente contrária àquela viagem – nos dois sentidos – toda. Feito um verdadeiro político em ano eleitoral, nosso falacioso protagonista encheu a boca de promessas, que iam desde notas melhores na escola até a lavar a louça – isso é, colocar tudo na lavadora automática – por um ano inteiro. Entre trabalhos forçados e discussões exaltadas, Wandinho foi aos poucos amolecendo sua progenitora – que, como ele notou com certa estranheza, utilizava bastante palavrões que eram ofensivos a ela própria. No final das contas, ele acabou propondo acordos dos quais se arrependeria amargamente mais tarde – na verdade, pelo resto da vida, vocês logo perceberão.

De mochilas prontas e passagens compradas, Wando e Sam partiram de São Paulo numa manhã de garoa – e faz outro tempo lá? – com destino à desértica Brasília. Conforme embarcavam, um filme passava na cabeça de Wandinho – que se repetiria mais três vezes durante o percurso, já que eles pegaram os assentos logo abaixo da televisão e o motorista gostava muito de 2 Filhos de Francisco, fazendo questão de compartilhar – e recompartilhar – com os passageiros toda a magnitude daquela obra-prima do cinema brasileiro. Isso sem falar na senhora que se sentou logo atrás dos dois jovens aventureiros, que a cada curva resmungava como estavam indo rápido demais e acabariam batendo feio ou sofrendo outro acidente trágico do tipo, que invariavelmente terminaria com a morte de todos ali. E foi assim que, finalmente, começou a épica jornada de Wando Percival Júnior.

 

Tirando alguns pequenos contratempos, trajeto foi tranquilo para nossos bravos viajantes. Wandinho conheceu os banheiros de todas as rodoviárias e paradas entre São Paulo e Brasília, graças ao seu enjôo de viagem, e neles aprendeu o que há de mais refinado em literatura e filosofia popular. Sam colecionou bugigangas de todos os tipos, mais parecendo um turista estrangeiro, o que acabaria por fazer com que ele retornasse para casa com o triplo de bagagem. Isso sem falar nas leitoras de mão e estrangeiros perdidos prestes a serem assaltados que conheceram, mas isso é tema para outra história.

Por fim, chegaram a Brasília numa noite sem luar, um mau agouro que com certeza passou despercebido. Estavam cansados e precisavam de abrigo naquela terra estranha, e então logo tomaram dois baús – já estavam incorporando o dialeto regional – rumo ao destino que lhes fora recomendado: a Pousada do Sapo Saltitante. O lugar era um prédio velho próximo a Ceilândia, que já havia feito as vezes de bar, prostíbulo, esconderijo, casa funerária duas vezes e até pet shop – curiosamente, o negócio mais rentável que passou por ali – mas que havia sido reformado – entenda por reforma esconder as rachaduras e passar uma camada de tinta nova – e transformado numa espécie de hotel barato. No entanto, quase tudo girava um torno do lounge – um nome pomposo para uma sala de estar acrescida de um balcão de atendimento – do local, ponto de encontro de RPGistas, jogadores de cardgames e outros desocupados do tipo. Resumindo tudo, um paraíso nerd, ideal para o merecido descanso de Wandinho e seu bravo escudeiro – isso é, se eles conseguissem pregar o olho com tanta ansiedade e excitação acumuladas.

Logo cedo pela manhã, após um cochilo rápido, Wandinho e Sam partiram rumo à casa de Gisele, cujo endereço havia sido obtido através da desculpa do envio de um presente ou alguma balela do tipo. Mal podiam se conter dentro deles mesmos, tamanha expectativa. Tiveram até que pegar dois baús, já que precisaram parar no meio do caminho para Wandinho vomitar em algum banheiro público novamente, nervoso como estava. Para completar, ainda conseguiram se perder – mesmo em Brasília – mas finalmente chegaram ao seu destino quase na hora do almoço.

Gisele morava numa república, junto com outras quatro estudantes universitárias – contenha seus pensamentos pervertidos, caro leitor masculino. O lugar era bonito, bem conservado, muito disso devido à ausência da influência perniciosa de algum homem deixando meias sujas espalhadas pela casa, pilhas de louça para serem lavadas sozinhas e coisas do tipo. Tremendo, Wandinho tocou a campainha, segurando suas tripas como podia. Foram atendidos por uma moça de esplendor angelical: cabelos anelados da cor de ouro lhe caíam até os ombros, olhar castanho emoldurado por lentes que lhe davam um aspecto intelectual, pele cor de oliva que parecia reluzir à luz do sol, lânguidos movimentos que lhe davam uma atmosfera teatral. Sam foi imediatamente arrebatado por aquela beleza de ar nerd, não conseguindo dizer palavra que fosse diante do que achava ser a prova irrefutável da existência de forças divinas regendo nosso pobre mundo mortal. Couberam a Wandinho as apresentações e explicações, dadas numa voz vacilante. Foram convidados a entrar, e naquele momento Knockin’ on Heaven’s Door já tocava na mente de Sam, o coração próximo de uma parada súbita – o que só teria deixado essa narrativa ainda mais absurda e sem sentido.

Já acomodados na mesa da cozinha, foram servidos com café – aparentemente a única bebida consumida naquela casa – e biscoitos recheados, bem à moda universitária. A garota que havia atendido a porta, cujo nome era Valdilene, logo anunciou que tinha más notícias – o que fez coisas terríveis passarem pela mente de Wandinho, inclusive a possibilidade de sua amada ter um namorado e o estar enganando esse tempo todo, o que seria o fim mais aceitável para essa história. Entretanto, Val disse que Gisele estava na sua terra natal, numa viagem de emergência devido ao falecimento de algum familiar, mas que voltaria de lá em breve. Explicou-lhe que Gigi – apenas para os íntimos – era de Serpentina, uma cidade no oeste da Bahia – o que fez Wandinho e Sam imaginarem que lá realmente deveria ser carnaval o ano inteiro, como diziam as lendas – e que voltava para lá constantemente, já que não era assim tão longe. Val conversou com os visitantes por mais um bom tempo, ouvindo toda aquela história maluca e rindo com a má sorte de Wandinho ao tentar fazer uma surpresa para sua amante virtual – que era surpresa também para Sam, que só então descobriu que não havia nada de combinado entre seu amigo e a garota dele. Entretanto, Sam não teve sequer chance de se irritar, já que toda sua concentração estava voltada para o decote de Valdilene, e muitas vezes ele agradeceu pela ideia de comprar óculos escuros numa parada logo antes de chegarem a Brasília. Nossos dois protagonistas, que naquele momento viviam sentimentos absolutamente opostos, ainda conheceram as outras moradoras da república – todas espantadas com a loucura de Wandinho – tomaram capuccino, assistiram um filme, trocaram recomendações de animes, discutiram sobre bandas indie e – o mais importante – adicionaram suas novas conhecidas no facebook. Para Sam, aquela tarde foi como ter seu sonho a la American Pie realizado, pobre rapaz ingênuo que era. Algum tempo depois, isso tudo resultaria em outra história curiosa e absurda, dessa vez envolvendo Sam e as universitárias simpáticas – talvez você, caro leitor, possa imaginar um adjetivo melhor – mas isso também fica para uma oportunidade futura. Por favor, aguarde as próximas edições.

 

A noite já ia alta e escura quando Wando e Sam retornaram ao Sapo Saltitante. Enquanto Sam parecia flutuar, Wandinho estava soturno e pensativo. Ao adentrarem a hospedaria – vamos lá, soa mais épico que simplesmente “hotel” – notaram a agitação que tomava conta do local. As mesas do lounge, que nunca eram ocupadas por hóspedes, estavam tomadas por grupos de RPG. Coloridos escudos do mestre se espalhavam por toda parte, o som de dados rolando tomava conta do ambiente, juntamente com o ruído de salgadinhos sendo mastigados. Seria o verdadeiro éden para Wandinho, mas ele estava ainda muito frustrado com o resultado da viagem. Sam, que parecia ter descoberto o caminho para El Dorado e em nada compartilhava o sentimento de seu amigo, logo tratou de se enturmar e preencher a primeira ficha que lhe aparecesse pela frente, prometendo a si mesmo que mataria Lestat de inveja de tanta diversão que teria numa noite só.

Cabisbaixo, Wandinho pediu um refrigerante de laranja e se retirou a uma das mesas do canto, onde a alegria não poderia penetrar sua muralha de auto-piedade. Melancolicamente, relembrava todo sacrifício que tinha feito para conseguir embarcar nessa viagem, e pensava – claramente no fundo do poço – que sua mãe estava certa, que tudo aquilo era uma idiotice sem tamanho. Tão depressivos foram aqueles momentos que Wandinho chegou a colocar My Immortal para tocar no seu celular, e assim atingiu o ápice de todo goticismo adolescente.

Em algum momento, perdido em meio à sua escuridão particular, quando já estava quase escrevendo um poema sobre um corvo, Wandinho notou que um estranho o observava de uma mesa no canto. Estava sozinho e trajava vestes pesadas – provavelmente era algum jogador de Vampiro: A Máscara, pensou nosso triste protagonista. O sujeito, assim que viu que sua atenção era retribuída, chamou Wandinho com um gesto sutil, o qual, surpreso, olhou para todos os lados para confirmar se era a ele que se dirigia o estranho, percebendo assim que ninguém mais estava por aqueles lados tenebrosos do salão. Bastante temeroso, mas em igual medida curioso – e sem nada a perder – Wandinho aproximou-se lentamente, já com o grito de “socorro, ladrão de rins!” preparado na garganta.

Logo que sentou, o sujeito saudou Wandinho e se apresentou. Chamava-se Dadolargo, e assim era conhecido porque os atributos básicos de seus personagens de D&D nunca estavam abaixo de quatorze, isso sem falar que ele conseguia um acerto crítico a cada três rolagens e nunca havia rolado um “1” em qualquer dado que fosse. Outros feitos mais poderiam aqui ser ditos sobre essa folclórica figura brasiliense, como o fato de ter decorado todas as regras da terceira edição de GURPS, mas dispomos de pouco espaço para essa história, então é melhor continuar de uma vez. Dadolargo revelou ter se consultado com os sábios – isso é, tinha stalkeado Gisele em todas as redes sociais que pôde – e assim ter tomado conhecimento do propósito da viagem de Wandinho. Campeão e protetor dos nerds de Brasília, herdeiro de um longo legado perdido desde os imemoráveis anos oitenta, Dadolargo anunciou que era seu dever de honra guiar Wandinho até seu destino e assim iniciar uma nova era no mundo, um tempo governado pelo verdadeiro amor nerd, no qual todo o bullying e preconceito seriam deixados para trás e todos viveriam em paz novamente. Wandinho estava espantado com aquela baboseira toda, tentando desvendar que tipo de golpe aquele homem estava tentando lhe aplicar, mas estava começando a gostar da ideia. Já tinha feito aquela viagem toda, não custava nada seguir um pouquinho mais adiante. Como diria o ditado, “tá no inferno, abraça o capeta” – eu sei que você conhece outras versões, mas elas não podem ser postas aqui.

Quando já estava se levantando para ir chamar Sam, Dadolargo deteve Wandinho, dizendo-o que tomasse cuidado e não revelasse seu propósito a ninguém, já que “o mal” possuía muitos olhos e ouvidos, até mesmo ali no pacato Salto Saltitante. Não entendendo direito o que isso queria dizer, Wandinho chamou Sam para um canto e lhe contou toda a conversa que acabara de ter. Samuel, muito atento, lembrou seu amigo de que possuíam fundos apenas para a passagem de volta, e que, além disso, eles não eram personagens de Eurotrip ou algum filme assim. Por um bom tempo Wandinho teve de usar toda sua habilidade para convencer seu escudeiro a tomar parte naquela loucura – não com esses termos, claro – e que não deviam se preocupar com dinheiro, uma vez que sabia que a família de Sam tinha tanto dinheiro que ele poderia combater o crime por esporte se quisesse, podendo assim facilmente pagar algum resgate se fosse necessário. O argumento final de Wandinho foi a belíssima e jovial irmã de Gisele, que faria Sam até mesmo esquecer Valdilene, sem dúvidas uma proposta ainda mais irrecusável que a de Vito Corleone. Posto isso, acertaram partir logo cedo no dia seguinte, e novamente a esperança brilhou nos olhos de Wandinho – juntamente com algumas cartas de Pokémon TCG, que ele resolveu jogar um pouco para matar o tempo, usando seu velho baralho comprado com o dinheiro do lanche.

E assim transcorreu o resto da noite. Tudo parecia correr bem no Sapo Saltitante, as expectativas altas e a ansiedade a mil. Mal sabiam nossos protagonistas, entretanto, na cilada que estavam se metendo, e ainda naquela madrugada passariam por uma das experiências mais bizarras de suas vidas.

Ôpa! Terminou de ler? Que tal já ir para a segunda parte? Leia A épica jornada de Wando Percival Junior – Parte 2!